São Paulo recebeu o congresso do ISPA- International Society for the Performing Arts. Encontro que reuniu produtores, agentes e principalmente programadores de diversos centros culturais de várias  partes do mundo. Foi organizado pela Claudia Toni, através da Secretaria de Cultura do Estado – da qual a Claudia é assessora de música. Foi uma espécie de afirmação de São Paulo – como capital cultural no mundo.Creio que o fato de ter participado de encontros desta natureza,  em outras partes do mundo, permitiu-me avaliar a  generosidade presente nesta iniciativa, tanto em termos de atividades, como no desejo de compartilhar as nossas especificidades culturais.

Houve excelência tanto na organização, como na criação de um tema comum que aproximava a todos, o mergulho na diversidade. Entre as atividades uma mostra da música tradicional brasileira – com  o Boi do Maracaná de Belém, Congado, Caboclinho… Tudo muito rápido, para mim. Meio cartão postal. Mas provavelmente bastante atraente e eficiente do ponto de vista de impacto. No meu caso teria preferido menos grupos e um mergulho maior em cada um deles…

Existe ainda gentileza e nobreza neste meio. O interesse dos estrangeiros era genuíno. Abertos a nossa maneira de pensar e fazer, pude constatar um certo fascínio por caminhos que eles desconhecem. Ponto para a organização, que em nenhum momento impôs o conceito de que temos apenas a aprender. Temos sim. Mas temos o que mostrar também em termos não só de criação, como  na busca de caminhos próprios  e formas de viabilizar infinitas produções.

Participei de uma mesa ao lado doze profissionais onde debatemos o papel do agente, a partir da visão de artistas, programadores e dos próprios agentes. Neste campo ainda estamos defasados no país. Creio que desperdiçamos um importante canal de produção e difusão e que é um elo fundamental, nesta cadeia.

Ainda  temos a visão antiga do produtor, empresário (palavra com conotação pesada) e agente (do qual, creio que não temos uma idéia clara). Todos, muitas vezes,  como uma  turma de espertalhões a buscar vantagens na relação com os artistas.  Ou sujeitos ignorantes do real valor da arte, mais como atravessadores.

Bom – creio honestamente que sem a revisão destes conceitos, bem como a formação de profissionais competentes e criativos nesta área não iremos muito longe em termos de um real desenvolvimento do mercado para a cultura.
Alguns dos produtores , programadores e agentes  que conheci, tanto no Brasil, como o resto do mundo, são para mim o sal da terra.

Apaixonados pelo trabalho que fazem, não medem esforços e recursos para viabilizarem seus projetos – que são na maior parte das vezes inclusivos e benéficos, diretamente, para uma serie de pessoas e indiretamente para toda a sociedade.
Alguns tem uma visão equilibrada deste meio; suas possibilidades e deficiências. Voltei agora do Porto Musical (escrevo sobre o evento – num próximo post), organizado por Melina Hickson e Paulo André. A importância deste  encontro e a dedicação de ambos para o seu sucesso é típico deste profissional que menciono.

Assim como percebi em varios dos estrangeiros na mesa,  do ISPA, o desejo de ouvir, aprender e acolher experiências diversas.

No meu caso, tenho tido a felicidade de trabalhar com diversos  jovens, entre os quais,  profissionais muito dedicados e competentes no Núcleo Contemporâneo.  Entre os que passaram, ou ainda estão: a Carina Santana, o Felipe Arruda, a Luiza Morandini, a Marcia Duarte, Erika Breno, Lysandra Domingues, o Marcelo Ozório… Sem este tesão, o trabalho não acontece. E sem eles, não há como fazer este projeto. É necessário iniciativa, bom senso, improvisação, coragem, bom humor… Não são qualidades pequenas, nem fáceis.

Não me refiro aqui ao captador de recursos, que nada mais faz que correr atrás de verba e criar franksteins culturais, para não perder a chance daquele editalzinho…

Penso mais naqueles que correm riscos e se envolvem até o pescoço com este universo… E com os quais tenho muitas vezes trabalhado e me beneficiado deste contato. A turma da Bangalo, Jardim, Veredas e outros em Minas. A Ligia em Porta Alegre, a Lu Araujo no Rio. O Marcos Souza, a Myriam – minha irmã que desde sempre vem fazendo um lindo trabalho de preservação  e difusão da música brasileira. A Lucia da 2 LL, o Ruy  e a Via Magia na Bahia, e Rita  Fernandes  no Rio – ambos do Mercado Cultural da Bahia.  A Coraly e a Joelke, o Martin  Grossman, a Samantha e a Yael, no CCJ. O Pena, que além de  pensar como poucos o meio, realiza um importante trabalho no Auditório Ibirapuera.

Sem estas pessoas, e tantas outras aqui não citadas, mas com o mesmo valor, não há vida cultural inteligente.

Tenho tido contato com muitos jovens em seminários e encontros Brasil afora, que se oferecem como voluntários para trabalhos nesta área. Vejo o brilho nos seus olhos, e a maneira encantada como se referem a este desafio. Que é de fato uma imensa aventura, para quem se envolve.

Sinto ainda uma espécie de desconhecimento por parte de vários artistas, do real valor destes profisionais. Na verdade não estão do outro lado do Balcão… Não são os inimigos necessários. São, quando dedicados e sinceros, uma parte fundamental de vida criativa do país.