Sou convidado para fazer parte da comissão que escolherá os grupos para uma das noites do Jazzahead! overseas – que apresenta músicos de outros continentes que não o europeu. Em troca, o festival convida para acompanhar a edição, bancando metade dos custos. Decido ir. Em geral, os encontros que participo são aqueles conhecidos como música do mundo, e é a primeira vez que vou a um dedicado ao jazz, embora todos estes termos se diluam perante a música. O jazz da Estônia, quando bom, é musica estoniana. Quando muito americano, feito por músicos estonianos, perde o interesse.

O encontro acontece em Bremen, cidade alemã. Por questões de custo e principalmente de curiosidade, resolvo ir por Istambul, por uma companhia aérea turca, assim posso ficar um dia em Istambul, que não conheço e sempre quis conhecer. Me informo quanto ao melhor lugar para poder aproveitar um dia na cidade, ou seja, que seja fácil do aeroporto e próximo de alguma região interessante da cidade.

Fico na praça Taksim. Encontro um bom apart hotel por 50 euros e embarco em uma viagem que dura algumas horas, mas que pra mim é profundamente encantadora.

Dou sorte, ao lado do hotel fica a principal rua de pedestres, talvez a rua mais movimentada que vi. Larga, um calçadão, mas com infinitas pessoas caminhando à noite, lojas abertas até às 22h, e aqui de novo sinais da globalização: as mesmas grifes dos EUA ou outros países Europeus. Mas no meio delas, há comercio local com restaurantes, cafés, lojas e CD (baratos e ainda muito vivos). Entro em um café livraria e encontro coisas ótimas, DjivanGasparian, KurdsiEderguner, ArtoTunboyaçian, todos grandes músicos, 13 reais cada CD.

Outro feliz acaso, é que no final desta rua há inúmeras lojas de instrumentos. Entro em uma como duduks, zarbs e uma infinidade de instrumentos locais. Acabo ficando com um duduk, depois de claro, negociar o preço, um esporte local.

À noite, não consigo dormir, pois meu quarto fica no primeiro andar. Na rua, conversas altas, som eletro a noite toda. Às 5h da manhã uma súbita e inesperada mudança de clima. Sai o eletro e entra o canto religioso, alto, mas sinto um imenso alivio. Às 7h da manhã já estou na rua de novo pra ir ao Gran Bazar, um lugar incrível, um mercado antigo, imenso, com uma manutenção mais sofisticada que muito shopping Center. Tudo muito limpo, com telas de plasma informando horários e notícias.

Daí sigo para o aeroporto e em seguida, Bremen, Alemanha. Chego direto para o concerto do Trio Corrente, na Overseas Night do JazzAhead!. Um lindo concerto, sala cheia. Uma bela apresentação de Fábio Torres, Paulo Paulelli e Edu Ribeiro. Em seguida, uma bela performance do harpista colombiano Edmar Castanera.

A feira é igual a todas as outras, stands de gravadoras, artistas. Confesso que não curto muito este formato. Acho sempre um pouco constrangedor a música e artistas oferecidos como produto desta forma. Fico sempre achando que deveríamos criar algo mais inteligente. As pessoas muito gentis, um clima tranqüilo. Alguns shows, free jazz, tradicional, um pouco de tudo. Vou atrás de CDs, interessado na produção atual de vários países, o que mais me encanta, de longe, é a produção da Estônia. Música criativa, original, bem gravada.

Algo curioso no mundo, quanto menor o mercado, mais criativa a música, já foi diferente, mas nos últimos anos descobri artistas incríveis da Eslováquia, Turquia, Colômbia, Venezuela. Pouca coisa inesperada nos EUA, Inglaterra, França, claro que há, mas não em profusão.

Bremen é uma cidade bem bonita, parques, construções antigas preservadas, mas é claro que o que fica na cabeça e no coração é Istambul.