Tenho viajado muito nestes anos. Levado basicamente por duas atividades- como músico, tocando e me apresentando em diversas formações e como convidado – pelo exercício que faço da curadoria do Mercado Cultural da Bahia. E a partir destas duas experiências tenho escutado muita música boa (mas nem sempre).

Boa parte desta música circula pouco por aqui. Assim é do desejo de compartilhar estes sons – e vivências – que começo a escrever estes textos como uma espécie de diário de bordo…

Estive agora na Colômbia, para acompanhar o mercado Cultural de Bogotá. Mercados são uma das formas que profissionais e instituições ligados a cultura – tem encontrado para promover as artes – fora do circuito industrial e massivo. Funcionam basicamente como uma plataforma que apresenta a produção, em geral, local (tanto tradicional, como contemporânea). Convidam muitas vezes, profissionais de todo o mundo para acompanharam esta mostra. E eventualmente incluir este conteúdo, em suas próximas produções – sejam elas festivais, gravadoras, instituições, jornalistas.

Basicamente apóiam-se em três ações: concertos abertos (com a presença do público local) ou fechados (apenas para profissionais). Seminários voltados à discussão de temas ligados as necessidades do meio. Mais práticas que estéticas. Ou a apresentação de realidades distintas: outras culturas, outros mercados, ou feiras que num formato muito semelhante a qualquer feira de produto, dispõem de stands para apresentarem o trabalho de artistas, instituições, agências, festivais, ONGs etc…

merc_bogotaQuando começou o Mercado Cultural da Bahia em 1999 eram poucos os eventos com estas características. Womex, Vic, Cinars, e talvez mais 3 ou 4. Hoje são dezenas – talvez centenas. Há diversos mercados, na Ásia, África, Europa, Américas, Austrália. Às vezes apresentando um panorama continental, às vezes regional, até mesmo local.

Há sérias questões quanto à efetividade desatas iniciativas. Sem dúvida, quando de qualidade, atualizam a discussão e informam; aproximam distintas pontas da cadeia de produção: artistas, agentes, jornalistas, produtores.

Por outro lado, por serem iniciativas que contam, muitas vezes, com apoio estatal, acabam desenhando programações desinteressantes, para atender e acomodar diferentes interesses e pressões.

Sobre Bogotá, qualquer um de nós que nunca foi a esta cidade e tenha alguma sensibilidade ao outro e a diferença, se surpreenderá. É uma cidade viva e bonita. Muita gente na rua. Bairros antigos – como a Candelária e modernos. Uma vida noturna intensa. Ônibus de cerâmica tomam vida. Além da implementação do sistema de transporte de Curitiba. Eu particularmente gosto muito.

Assim que pela segunda vou a cidade, convidado a acompanhar o Mercado Cultural de Bogotá. Dedico-me a ver música e participar dos seminários ligados ao tema. Além de encontros com músicos e agentes locais, organizados em forma de rodadas de negócio. Uma questão à parte. A ver e pensar.

Acho a música do continente talvez a mais interessante no mundo hoje. E a Colômbia é sem dúvida um pólo surpreendente desta produção. Da música tradicional – que lamentavelmente ainda se desconhece em nosso país à produção contemporânea – instrumental, canção, pop etc…

Cito abaixo alguns dos grupos que me parecem apresentar propostas muito interessantes:
Puerto Candelária
Curupira
Distrifonica – um coletivo com vários grupos.- Uma saída inteligente e saudável para esta produção de música experimental a tradicional.
Mojarra Elétrica – pop inteligente
Sinsonte

produtores_merc_bogota

 

Uma das coisas bacanas de estar em um encontro destes é a convivência com profissionais de outros países. Alguns que tem a mesma função em suas cidades. Que compartilham de interesses e preocupações afins. Os quais venho encontrando e convivendo ao longo dos anos. Vai se criando uma rede de fato; informal, porém viva e conseqüente.

Em Bogotá estavam presentes profissionais do México, Chile, Argentina, Israel e Venezuela.