Estive no México estes dias para participar do 4 Encontro de Artes cênicas.

É minha quarta vez neste maravilhoso país cheio de contrastes e contradições, como o nosso. E contemplado com uma vida, difícil de controlar. A cidade do México é ainda maior que São Paulo. E sendo uma região sujeita a terremotos, tem um um número muito menor de edifícios. É, portanto, ainda mais espalhada. Seu transito é caótico – permanecendo assim, quase o dia todo. Em seu crescimento absorveu cidades menores – que hoje são bairros, Mas que preservam, cada um, seu centro histórico. O que a torna uma cidade muito incrível e bonita, em determinadas áreas.

Bom, os Mercados – forma de festival e de plataforma para artistas, managers e programadores -, estão presentes hoje em quase todo o mundo. O do México, que se chamava Puerta de Las Américas, mudou um tanto seu nome e perfil. Antes recebia artistas de todo a América Latina. Era uma espécie de portal para artistas latino-americanos E agora apresenta apenas a produção mexicana.

O México tem uma característica interessante na área de cultura – e provavelmente em várias outras – a total dependência de artistas e projetos de cultura do governo. Quase todos s festivais, criadores, selos, dependem de editais e verbas públicas. O que na minha opinião, enfraquece muito a força e autonomia de um artista, bem como a diversidade criativa do país.

Na área de música (havia ainda dança e teatro-além de uma área de multidisciplinaridade), se apresentaram 12 artistas. Participei da seleção dos ligados à música, como convidado internacional, em agosto do ano passado.

Alguns projetos muito interessantes, outros nem tanto… Os que mais me cativaram foram Cabezas de Cera, um trio extremamente original e competente que constrói parte dos seus instrumentos;Juan Pablo Villa, um cantor que se apresenta solo, ao lado de um desenhador que da cabine de luz vai desenhando e criando vídeos cenários; Los Dorados – apesar de terem sofrido pela ma qualidade do som – e por estranhamente não trazerem consigo um bom técnico – algo vital para quem pretende fazer boa figura em um evento desta natureza, tem um excelente baterista e saxofonista, além de uma proposta interessante…

Um bom quarteto de sax, Anacruz, music e também um coral universitário com uma proposta interessante.

Diretores de Center of Performing Arts, festivais e agentes, especialmente dos EUA, Canadá e México, estavam presentes.

Sabendo da minha ida ao México, uma muito querida amiga, Mariana Delgado, me convidou para participar de uma mesa dentro de um projeto lindo que estava coordenando, no Centro Cultural da Espanha – Los Sonideros.

Los sonideros são os que com suas aparelhagens – enormes sistemas de som -, vem há mais de 30 anos, realizando bailes e festas na ruas da periferia da Cidade do México.

Tocam basicamente salsa e cumbia – colombiana – grande fenômeno local. Muitas vezes comparados aos techno-bregas de Belém do Pará – são para mim muito distintos. Pois, ao contrário do que se sucede em Belém, a música tem qualidade (sobre isto – quero poder escrever mais, pois – acho – claro que é uma visão pessoal – que tem se criado uma enorme confusão entre saídas econômicas interessantes e conteúdo criativo).

Tem toda uma mitologia, um senso de participação comunitária e valores, que os aproximam do universo de música tradicional do Brasil.

Rene Roquet

Participei de uma painel – e acompanhei um baile no centro – dentro do Festival do Centro Histórico. Por serem associados a idéia de periferia, há muito tempo, não lhes era permitido se apresentar no centro da cidade. Garis dançando ao lado de jovens universitários.. Sem dúvida a cultura popular é das experiências mais democráticas que se pode viver hoje… fica no coração.

Algo que nos difere é a presença anterior, a chegada dos europeus, de uma história e civilizações incrivelmente sofisticadas, que foram os aztecas, mayas e toltecas, entre muitos outros. Tenho a sensação de que há uma cultura adormecida, porém sempre a ponto de despertar (o que talvez já esteja ocorrendo) e podendo renovar e contribuir para dar direção e sentido a este país tão intenso, e para mim muito especial.