… a mesa de debates entre produtores e músicos latino-americanos centrou-se na definição de uma rede de trabalho que, num primeiro momento, focasse seus esforços na troca de informações recompiladas para gerar iniciativas pessoais, juntando projetos com interesses afins.

Para isso será necessário a pré-seleção de um produtor que com duas ou três sugestões possa desenhar o momento musical do seu país.

“A experiência das chamadas associações que agrupam músicos e/ou produtores serviu mais que nada para privilegiar seus participantes, para prestigiar o momento (…), as redes viravam um clube de grupos, sem maior função representativa”, comenta Benjamin Taubkin sobre as experiências em que a ausência de compartilhamento torna a informação propriedade de poucos.

Nesse sentido, a partir do trabalho começado no encontro, se propiciarão vias de interação entre os diversos atores do mercado cultural na região, que estimulem, numa primeira fase, assentar o trabalho em rede.

 

Aquarela peruana

Pepita García-Miró produtora peruana, levou à mesa de discussões uma aquarela de sons que atravessaram a linha do tempo, desde as culturas pré-colombianas até as experimentações sonoras contemporâneas.

Assim, ouvimos amostras musicais como Icaros (utilizados até hoje nas cerimônias de Ayahuasca), Q’arawis, os quais utilizam principalmente pututus (caracolas), quenas, zampoñas o sikus, tambores ou tinyas, huacos silbadores (espécie de ocarinas) e trompetes de metal e cerâmica. São músicas que conservaram-se até hoje, sobretudo nas regiões aymaras e as tribos da amazônia peruana.

Também conhecemos os “danzantes de tijeras” (dançarinos de tesouras, literalmente), originários do movimento Taki Unquy que, no sec. XVI, procurava um retorno aos primórdios da cultura andina. Foi, de certa forma, um movimento de resistência cultural antes que um gênero musical.

Conhecemos também o huayno, a música andina mais tradicional e antiga, que nas suas melodias pentatônicas conserva grande parte da sua estrutura instrumental (violinos, harpa, saxofones, as vezes violões e geralmente uma voz feminina)

Depois vieram as danças de origem africana, no sec. XVIII, tais como o Lando, o Lundero, o Panalivio, o Agüaenieve, o Payandé e o Festejo. Já nessa época, os batuques em tambores de couro chegaram a ser proibidos por edito da igreja católica, que via com maus olhos as festas populares dos negros. Este, provavelmente, foi o pretexto pelo qual o cajón (feito tudo de madeira) chegou a conceber-se.

No folclore da costa, no séc. XIX e princípios do XX os bailes de salão vinham ganhando espaço: a valsa e a polka foram as músicas emblemáticas dos imigrantes e descendentes de espanhóis assentados na costa, especificamente em Lima.

Híbridos

Na amazônia peruana, a cumbia colombiana influiu ao ponto de originar um outro estilo chamado de música tropical. Nomes como Juaneco y su grupo, surgem na cena nacional.

A chamada música chicha também se influencia da cumbia colombiana, do huayno e dos ritmos folclóricos da amazônia. Logo viria uma outra modalidade chamada Tecnocumbia que também beberia das vertentes acima mencionadas.

Atualmente, a música contemporânea no Peru esta representada nos trabalhos de músicos como Jean Pierre Magnet, Susana Baca (ganhadora do Grammy), Manongo Mujica, Daniel Kiri Escobar, José Luis Madueño, entre outros.

Sonares Comuns

A vez da Bolívia trouxe ao músico Álvaro Montenegro, e sua mais recente produção chamada Tinku: La Senda, pesquisa feita no interior de uma comunidade aymara-quechua, no departamento de Oruro, ao sul do pais.

Na produção, Montenegro expus seu interesse pela vertente tradicional, recopilando os cantos de trabalho da comunidade de Qaqachaka, convertindo a gravação num documento de importância etnomusicológica.

Este  não é um disco que registra a música qaqachaka. No mais, é um registro das viagens dos eternos pastores sirineros qaqachakas. Tampouco é um disco que possa ser rotulado como “world music”. É sobre tudo um encontro de dos estéticas musicais que se mostram uma a outra com admiração e respeito”, comenta.

E o diálogo pode notar-se nas faixas que, uma tras outra, confundem a khonkhota com a guitarra, o pinkillu com o saxofone, tudo combinado com o canto tradicional da cantora Elvira Espejo.

Agito em Bogotá

Finalmente, Andrés Benavides, artista e produtor da Colômbia, nos explicou um pouco do peculiar dinamismo que esse país vem atravessando no circuito musical.

Assim, conhecemos o trabalho do colectivo La Distritofónica, criado em 2004, com o fim de gerar uma plataforma de apoio à música independente em Bogotá.

No seu site, ela não só difunde os trabalhos sonoros de uma variedade de músicos, mas serve como ponto integrador de iniciativas no campo da produção musical.

Em relação aos trabalhos atuais das bandas, vale ressaltar que eles apresentam uma grande variedade de misturas com forte influência de músicas e danças tradicionais. A linguagem musical é fortemente experimental e, do princípio ao final nem chega perto com o que Colômbia vende na mídia massiva (Shakira, Juanes, por exemplo).

Muitos elementos tradicionais que vão desde referências indígenas até influências das Caraíbas (especialmente de Trinidad e Tobago, Cuba e Jamaica) formam o universo atual e palpitante da música nesse país.

O melhor é como os grupos lutam por atingir um espaço próprio no cenário local e internacional. Seguindo os passos de bandas jovens como Curupira, e tradicionais como Hugo Candelario ou Totó la Momposina,  a fusão de instrumentos e linguagens joga um papel característico. Asdrubal,  Primero Mi Tia, Ricardo Gallo Quarteto, e Eblis Álvares (conhecido também como Meridian Brothers) são só alguns nomes que medem a temperatura do circuito alternativo.

 

Levando o som à sério
Uma experiência que deve ser levada em conta como exemplo para outros países, sem dúvida, é o chamado Gran Concierto Nacional, que reuniu aproximadamente 500 prefeituras de todo o país num só evento paralelo. A troca de informações não só acontece entre os músicos, mas também entre os povos: o repertório desse dia deve, pelo menos, considerar diversos temas representativos da cidade que sedia e dois temas de outras zonas do país.

Neste ano, o encontro aconteceu no dia 20 de Julho e convidou a grandes figuras, jovens intérpretes, bandas do interior, conjuntos folclóricos, especialmente aqueles vinculados numa proposta governamental denominada Plan Nacional de Música para la Convivencia (PNMC) onde a música faz parte de uma política pública de integração e pacificação.

Muito além do Pasillo, o Bambuco, a Cumbia ou o Vallenato, basta dar um breve, curto passeio na Internet, digitando palavras-chave como “música + colombia” para perceber que nas suas 6 regiões (Costa Caribe, Costa Pacífica, Andina, de Los Llanos, Amazónica e Insular) o cardápio musical é farto e convida a conhecê-lo.

O novo rosto de Cuba

Brevemente, Johannes Abreu, produtor do selo Colibrí, que atualmente vem difundindo o melhor da jovem guarda instrumental, mencionou que na ilha vem se trabalhando muito as linguagens híbridas entre o tradicional e o jazz (como mostrou Alejandro Vargas Quarteto). Cada vez são mais os jovens que começam a produzir o novo rosto musical da Cuba de hoje.

Parte dessa canteiro se mostra no já conhecido encontro JoJazz Festival, que todos os anos desde 1998 vem apresentando músicos internacionais entre os 16 e 30 anos nas categorias composição e interpretação.

Abreu também comentou que, atualmente, diversos coletivos artísticos vêm dedicando muita atenção aos cubanos que ficaram desamparados devido à onda de furacões que assolou essa região do Caribe.

Noite

Fechou o circuito de apresentações o coletivo América Contemporânea, os quais apresentaram os temas do seu CD América Contemporânea – Um outro centro. Novamente, juntaram-se no palco Benjamin Taubkin (Brasil) no piano, a cantora Lucia Pullido (Colômbia), o saxofonista e flautista Alvaro Montenegro (Bolívia), os violonistas Fernando Tarrés (Argentina) e Álvaro Paiva (Venezuela), o percussionista Luis Solar (Peru), José Sapopemba (Brasil) na voz e percussão, o percussionista Ari Colares (Brasil) e o contrabaixista Christian Galvez (Chile).

 

Nomes a procurar (Peru): La Sarita, Frágil, Eva Ayllón, Dina Páucar, Miky Gonzáles, Nova Lima, Jean Pierre Magnet, Susana Baca, Manongo Mujica, Daniel Kiri Escobar, José Luis Madueño, Andrés Prado, Raúl García Zárate, Manuelcha Prado.

Nomes a procurar (Bolivia): Los K’jarkas, Luzmila Carpio, Emma Junaro, Ernesto Cavour, Edgar ‘Yayo’ Jofré, Álvaro Montenegro, Manuel Monroy Chazarreta.

Nomes a procurar (Colômbia): Los Gaiteros de San Jacinto, Liliana Montes, Choc Quib Town, Lucía Pulido, Asdrubal, Aterciopelados, Totó la Momposina, Mario Galeano Toro, Ricardo Gallo, Victor Gama.

Nomes a procurar (Cuba): JoJazz, Alejandro Vargas, Ernesto Camilo Vega Pérez, Jorge Reyes, Orlando Sanchez, Bobby Carcasses, Yasek Manzano, Joaquín Betancourt, Juan Ceruto.

Links:

Resistenciabolivia : primeiro portal sobre rock alternativo direto da Bolívia. Muito do postado é conteúdo independente.

De los Andes: base de dados com um respeitável acervo discográfico principalmente de música tradicional boliviana.

Cartografia de practicas musicales: Site na web com informação bem compilada sobre as práticas musicais na Colômbia.

Sitio oficial do Gran Concierto Nacional

La Distritofonica: ponto de encontro virtual do referido colectivo.