Esta é uma série de  textos – idéias,  diários de bordo, que venho escrevendo desde o fim de 2007.
O desejo é o de compartilhar algumas vivências, pensamentos sobre o universo da música, produção independente, autonomia e também  sobre a vida..

O CD e os independentes (Dezembro de 2007)

Pois estes dias me caiu uma ficha… Então é uma reflexão sobre questões ligadas a pirataria, download e o fim do CD. Existem ambas – pirataria e download.  E elas são bem sucedidas, apesar de todas as tentativas em contrário.

E, creio eu, um dos principais motivos deste exito é que o produto comercial é feito para  durar pouco. Quanto dura um sucesso destes – bem comerciais? E a idéia é que rapidamente se crie outro, outro e outro, e vá se jogando fora…

Assim, cá entre nós, quase que subliminarmente  e creio involuntariamente, se estimulou o comprador a buscar uma alternativa mais razoável. Se vai durar pouco, por que pagar tanto? Por que pagar 30, 40 reais, se é para durar três meses? Ou se é porquê apenas a música que tocou no rádio, presta… e o resto do CD apenas ocupa espaço…

Já não é o que acontece com a maioria dos produtos – ao menos de produção criativa independente, ou não – imagino  eu…

Quando produzimos um CD-temos o desejo de que  ele seja perene. Possa ser parte da construção da cultura de nosso país ou do planeta.

Nossa música não é feita para durar pouco. Não vamos nos matar para ver quem vende mais. Raramente há uma música de sucesso . O todo – o álbum inteiro – é um sucesso, ou não.
Até pela não massificação – não faz sentido piratear a maior parte de nosso catálogo – pois ele é imenso e por  vender pouco, não gerará ganhos  significativos ao pirata.

Nosso interesse é outro. Nossa vocação é outro. Nosso motivos são outros.  Muitos de nós estamos nisto e não vamos sair. Não vamos fabricar games, geladeiras, Vamos  continuar fazendo música. Nem que se venda de porta em porta. Pois não sabemos e não  queremos fazer outra coisa.

O nosso negócio não  tem nada a ver com o deles. São outros números. É outro jogo.  Varias iniciativas desta indústria foram nocivas para a nossa sobrevivência –  a própria idéia do produto  acima de tudo, todas as estratégias de difusão, (jabá – nem se fala)…

Creio que durante muitos anos houveram bons profissionais nesta indústria. Mas , talvez a partir dos anos 80- caramba! só  a visão dos comerciantes- só estratégias tontas. Uma radicalização do medíocre. Creio que cada um aqui vai ter sua estórias em relação a esta indústria. E imagino que para uma boa- umas dez estranhas.

Assim – creio que este é um momento em que seria importante nos diferenciarmos da grande indústria – inclusive publicamente. Pois estamos sofrendo um imenso prejuízo- que não tem nada a ver com o que fazemos. Não lucramos e agora poderemos ser vítimas de todo este prejuízo… Ainda temos,  alguns de nós,  e ainda que eventualmente, o espírito de aventura,  cooperação, troca, apoio.

Pois bem – o que sempre nos pareceu uma desvantagem- vender pouco, não ser conhecido da grande indústria – pode se tornar agora uma vantagem. Não somos tão atraentes para o pirata. A estrutura do nosso projeto é  uma que inibe ou desestimula a pirataria – pois não é massiva. O download pode ajudar a difusão – já que não toca na rádio…

Qual é a média de venda de cada CD nosso? Qual o objetivo ideal- 10 mil para alguns, 20 mil para outros. E talvez 100 mil para outros. Mas mesmo – imaginando um disco do Chico Buarque- não sei quantos o compraram pirata…A Olivia ou a Joana (Biscoito Fino) saberão melhor… E creio que uma  postura diferenciada da grande indústria nos faria bem.  Pois corremos o risco de a sociedade- com esta campanha de que o CD morreu, passe a achar que não deve comprar. E se sentir  tola ao comprar algo que todos dizem, está morrendo. Pois parece que vivemos uma campanha… E as materias a respeito quase não trazem a visão de um selo pequeno, de um projeto autônomo brasileiro.

Curiosamente quando a internet começou decretaram o fim dos jornais e revistas. Que estão indo muito bem. Claro – pois eles não irão anunciar diariamente a própria morte.  E cada veículo encontrou o seu espaço. Ambos estão co-existindo – a mídia impressa e a internet – com seus desenvolvimentos.

Como isto funciona?

Falou-se na Carta Capital (matéria o CD já era) sobre a perenidade do CD. Mas não fica claro os diferentes conteúdos. Parece que tudo é uma coisa só. Me desculpem – mas não é. Para se salvar -ou muito menos que isto- a grande indústria pode queimar estoques valiosos – Elis, Tom o que for, a preço de refrigerante, como mencionado na reportagem. E desvalorizar, como produto, todo o nosso acervo…

Não creio que algum de nós faria isto…

Por outro lado.

Não temos tido nenhum contato com lojistas – como uma associação- não fazemos encontros- não discutimos com eles possíveis estratégias e acordos. A associação dos independentes na França abriu em parceria com o governo local- 50 lojas em todo o país apenas para produtos independentes.

Estão felizes, segundo o cara que eu conheço da Pygamaleon Records as vendas cresceram.

Não usamos os recursos do Sebrae para formar profissionais do setor. Não temos um canal de contato com público, Honestamente acho que deveríamos fazer campanhas – quase de esclarecimento público- acerca do nosso trabalho. Que dizem a uma ação clara em relação a toda a sociedade- o que é que fazemos. Não estamos organizando seminários internos para discutir aspectos de produção, difusão, comercialização. Até educação. Não temos estratégia de rádio. Não temos um discurso claro sobre todas estas questões. Da importância desta ação para a cultura.

Por que um independente é diferente?

Creio que se ficarmos no morno – naquele toma lá dá cá, não iremos a lugar nenhum.

Bom esta é uma reflexão que eu gostaria de compartilhar com todos.