… argentino Fernando Tarrés começar, encarando logo a questão do tango na atualidade. “Atualmente não tem muita novidade em relação ao tango (…). Em geral é uma música muito arraigada à tradição”, comenta. Também falou que tal gênero converteu-se numa espécie de armadilha, um lugar comum à espera de todo músico argentino, um arma de cano duplo. “Com Piazzolla tivemos uma revolução muito importante, só que de alguma maneira ele é um buraco negro onde muitos ficam presos (…) me faz lembrar a música de Hermeto Pascoal, por exemplo”.

 

Segundo ele, a carreira de muitos artistas que tentaram continuar a herança de Piazzolla não conseguiram ser mais que repetições mal-feitas e muitos tiveram que retroceder. O tango eletrônico também aparece como uma opção válida, mas não interessante.

Complementa ainda que existe um espaço intermediário entre o tango, vinculado normalmente à vida urbana, e o folclore do interior, vinculado mais ao campo. Nesse espaço é que se ouve músicas mais vivas, espontâneas e inusitadas. É um tipo de experiência diferente – ainda que num estado primogênito – entre a música clássica contemporânea e a world music, que depois de experimentar muitas etapas, conseguem uma linguagem mais espontânea, flexível, natural e orgânica, não artificial.

Nomes como Juan Quintero, Edgardo Cardozo, Carlos Aguirre encarnam esse novo fenômeno, com um novo manejo da linguagem musical, muita naturalidade, harmonias sofisticadas não somente do jazz, mas partindo de sua concepção tonal.

Entendendo a Argentina

Para Tarrés, Argentina, como o resto dos países Latino-americanos, é um país singularmente complexo, e aquela conhecida soberba dos argentinos no fundo pode ocultar uma insegurança maior. “Tem algo interessante e a estes músicos (Quintero, Cardozo e Aguirre) não lhes interessam saber se soam como música da Argentina, ou seja, não possui aquela obviedade caricaturesca e sim um fluir despreocupado, sem preconceitos”, assinala.

Aliás, nas temáticas, letras e músicas, longe de se preocupar com um tipo de invasão territorial de sons estrangeiros (algumas misturas lembram claramente ritmos brasileiros, por exemplo) existe uma grande permeabilidade, sem medo de ter que ser um som local. “Os fantasmas da tradição são tão monstruosos que não deixam livres os jovens (…) hoje cada argentino já se apropriou de um pedaço musical dos outros países (…) Eu tenho mais discos do Hermeto (Pascoal) e do Egberto (Gismonti) que do Atahualpa Yupanqui, por exemplo”, afirma.

A idéia remarcada pelo produtor foi que uma música que defende determinada estética não resulta saudável. Os músicos deveriam estar alheios às discussões conceituais e não deveriam se preocupar com seu “dever” sócio-cultural de seguir uma tradição. “Não se deve carregar de responsabilidades nacionais os músicos (…), qualquer um deveria chegar com o que se veste e se mostrar assim”, conclui.

O lastro do Mariachi

Logo foi a vez de René Roquet, do México. Ele, traçando uma restrospectiva sócio-política que ajudou a entender o universo das atuais manifestações culturais desse país, falou também das dificuldades de sair do esquema preconcebido que, dentro e fora de México, a figura do mariachi significa para uma riqueza cultural diversificada e mista como a mexicana.

“Saindo da época da Revolução Mexicana, tinha-se que construir uma identidade. Eis aí que surge a figura do Mariachi, como o México provinciano que o cinema nacional, na metade do séc. XX, refletiu com toda clareza. Nessa época existia uma política de divulgação do país muito clara”, explica Roquet.

Posteriormente, a música e a iconografia emblemática do mariachi tornou-se um lastro. Cunhou-se a gíria “naco” para tudo aquilo que é popular ou refere-se ao indígena, com uma carga negativa muito parecida ao brega no Brasil. Depois, movimentos urbanos deram a volta e elevaram todo o “naco” à categoria de cultura “chida” (algo como a expressão em inglês “cool”) onde aqueles elementos negados anteriormente foram desvirtuados e recolocados. Nomes de bandas como Botellita de Jerez, e San Pascualito Rey são alguns exemplos.

Na música do norte, o legado do mariachi comercializou-se tanto que empobreceu-se. Ela subsiste e se mantém só, com selos que a gravam e palcos que a apresentam constantemente. Nesse cenário surge a figura de Eugenia León, figura de esquerda que acredita no força subversiva do folclore. “Tem grupos que querem revalorizar a música mexicana e demonstrar que a sentem de seu jeito (…) só que isso não parece encaixar-se estritamente no conceito de “world music”, aclara.

A partir de 1994, figuras como Lila Down revalorizaram também a veia indígena, ao mesmo tempo que em Chiapas nascia uma resposta reivindicativa ao México que acreditava numa cultura oficial governada por mariachis com o espanhol como único idioma. Surgem nomes como Juan Pablo Villa (vinculado ao canto misteco), e a banda Pasatono por meio das suas pesquisas musicais nas zonas de Oaxaca.

O Son Jarocho, no estado de Veracruz, também está ressurgindo, voltando aos palcos e praças como “jarana jarocha”. Por outro lado, a trova yucateca, originária do bolero, vem se misturando com ritmos peruanos, colombianos, caribenhos e chilenos, enquanto na parte de Sinaloa, a música nortenha (as de banda e as de trío) está se fundindo com a dos mariachis. Já nas zonas urbanas existe outro ritmo denominado “surf” que está diretamente vinculado com a tradição das lutas livres e a figura dos lutadores mascarados.

Noite

Os seis integrantes do instrumental Asdrubal apresentaram releituras dos ritmos e vertentes musicais da Colômbia. O jovem grupo faz parte do coletivo artístico La Distritofónica.

Links recomendados

Los Años Luz Discos : é um selo absolutamente fora de qualquer gênero predeterminado e com afã de distrubuir todo tipo de músca feita na Argentina. Vai do experimental, passando pelo eletrônico, o folclore etc.

Nomes a procurar (Argentina): Gustavo “Cuchi” Leguizamón, Lisandro Aristimuño, Juan Quintero, Edgardo Cardozo, Carlos Aguirre.

Nomes a procurar (México): Cabezas de Cera, Grupo Monoblanco, Ensamble Continuo, Guti Cárdenas, Iraida Noriega, Instituto Mexicano del Sonido, Jesús Valverde, Los tigres del Norte, Celso Piña, Nortec.

Acesse (Colômbia): www.ladistritofonica.com