O Piano Que Conversa

Quando criança e adolescente, me senti muito inspirado pelas viagens, em diferentes tempos e locações, imaginadas ou lidas em romances de aventura.

Pouco a pouco a música foi se revelando o veículo adequado para este anseio. Tanto em viagens presenciais aos mais diferentes lugares do mundo, como em encontros com músicos de outras vertentes – especialmente da música tradicional – do Brasil e de outros lugares do mundo.

Assim em grande parte me desloquei por vários lados, e por outras vezes os lugares (músicos), vieram até a minha cidade. Em cada encontro – um aprendizado infinito. De infinitos foi-se formando este universo. Nunca se fecha – nenhum encontro terminou exatamente. Mais pra verdade, foram apenas portas que se entreabriram.

O que sempre me atraiu nesta busca foram as diferenças. O não comum. Aquilo que é inclassificável, e que está misturado no meio da vida – das vidas de cada local, de cada comunidade.

E a alegria de quando a mágica acontece – todos sorrimos e sabemos que algo de especial aconteceu. Encontramos um território comum. Aonde cabemos todos. Não temos que abrir mão de nada. Apenas existir abertos e disponíveis.

A presença do Marcelo Machado representou a possibilidade de registrar e aprofundar este universo, elegendo alguns destes encontros. Ele na hora entendeu do que se tratava e olhou para tudo com afeto e encanto. Propôs que nos focássemos apenas na música e nas imagens… um filme sem palavras.

Vivemos nestes 3 anos, desde o início das gravações em 2016, até as exibições em festivais e circuitos de cinema, situações muito especiais. A convivência com toda equipe – músicos, técnicos e profissionais do cinema. Ou como a exibição em lugares da periferia de São Paulo, que nos surpreenderam com a sua escuta atenta e perguntas e depoimentos surpreendentes. Todo este processo foi um presente para mim. De certa forma, qualificou e ampliou o sentido de toda esta experiência que tenho a sorte de ter vivido em boa parte da minha vida.

Nunca acreditei que devemos nos conformar a uma existência vazia, sem significado, apenas para sobreviver e pagar as contas ou acumular bens. Sempre corri riscos. E sempre achei que valeu a pena. Tenho em geral sido feliz. A tristeza vem da falta de conversa – de uma parte da humanidade que vem escolhendo se fechar em quartos escuros enquanto a luz do sol brilha generosamente para todos.

Espero de coração que esta experiência possa tocar a cada um de vocês. E agradeço imensamente a cada um dos profissionais envolvidos neste projeto. São muitos… e cada um trouxe o melhor de si.

Benjamim Taubkin

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