Alfabeto

O novo lançamento da Núcleo Contemporâneo dá sequência ao CD Vortex Sessions do duo Benjamim Taubkin e Adriano Adewale, lançado em 2013 – gravado na conhecida casa de jazz em Londres. Alfabeto é o registro de uma Tour realizada por 10 cidades na Inglaterra – em 2013. O repertório destas apresentações, realizadas em alguns dos melhores teatros ingleses, baseou-se em composições espontâneas. Músicas que surgiram no palco sem nenhum tipo de premeditação.

O título Alfabeto remete a esta questão:

Quais sons, acordes e ritmos nos formaram – e seguem nos formando – a cada encontro, cada audição?

Pois é deste material que partimos cada vez que subimos ao palco para cada apresentação. É deste alfabeto que vamos buscar novas combinações, novas expressões, que vão compor o resultado musical de cada concerto. E que por serem criadas no momento, terminaram muitas vezes por surpreenderem a nós mesmos. Pois de fato os sons, os temas, acontecem nos melhores momentos, de forma inesperada.

Krishnamurti, um pensador hindu do séc. XX, fala da questão do olhar. De como estamos condicionados a nomear e a confundir o nome com a coisa em si; ao recurso da memória, ao que cremos já nos é conhecido. E da dificuldade de contemplar cada vez como sendo a primeira. O olhar fresco, não contaminado. Não condicionado.

É exatamente este o processo da composição espontânea. Evitar o que já conhecemos – aquilo que é o lugar comum para nós – mesmo que não para os outros. Como disse um outro pensador – “não há nada pior que a rotina da inteligência”. Nos apegarmos ao que já conhecemos. Mesmo sendo algo “erudito” ou sofisticado. Estar disponível para novas possibilidades. Abertos e atentos ao que se apresenta. Os estímulos sonoros que vem do outro. E as respostas e reações que acontecem muitas vezes de forma livre, natural.

Esta é a proposta deste projeto. E é de alguma forma, de várias iniciativas paralelas no mundo. Às vezes me parece um pouco, um dos caminhos que se abrem na música.

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