… começou pela manhã e foi principalmente focado em discutir esforços de integração real entre os mercados culturais da América-latina. Após uma breve apresentação das linhas que regeriam a conversa, Fernando Tarrés (Argentina), Álvaro Montenegro (Bolívia), Marieta Villazana e Álvaro Paiva (Venezuela), René Roquet (México), Iván Benavides (Colômbia), entre outros, falaram sobre suas experiências profissionais e respectivas visões do panorama musical atual nos seus respectivos países. Pela tarde, foi a vez da Venezuela dar a conhecer sua produção discográfica e seus intentos para desenvolver-se num cenário cultural sem apoio privado e com palcos reduzidos para novas propostas.

 

Álvaro Paiva comentou a importância da chamada “Lei Resorte” (Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão) apoiada pelo Ministério de Comunicação e Informação (Minci) e a Comissão Nacional de Comunicações (Conatel) que assegura uma parcela de 25% de difusão obrigatória da música de raiz venezuelana na programação de todo veículo de comunicação. Graças a isso, viu-se um renascimento de espetáculos de teatro, dança e música, a fim de aproveitar a oportunidade dada pelo referido marco legal.

Contudo, comentou-se que não existe um critério unificado na difusão da música feita nesse país por parte do Estado. “Um ano viaja um cara representando a Venezuela, através do apoio de algum funcionário do Governo e, num ano próximo, viaja outro falando outra coisa, com outras propostas, sem lograr um discurso homogêneo do que é a música venezuelana”, comenta Álvaro.

Essas distintas “Venezuelas” distribuídas no mundo obedecem aos esforços individuais dos músicos que, principalmente, difundem seus próprios trabalhos. A falta de uma política consensual sobre a difusão da música desse país faz com que ainda se mantenha a imagem da “harpa, o cuatro, e a maraca” como os únicos instrumentos típicos, e o Joropo Llanero como o ritmo mais massivo e globalizante.

Além do Sistema de Orquestras

Conhecido em todo o mundo, os holofotes se voltam constantemente aos esforços do Sistema de Orquestras deixando de lado outras expressões da cultura popular desse país. “Atualmente, vem ganhando espaço na MTV muitas bandas de rock e pop, embora não recebam ajuda necessária e nem sempre sejam tratados como os artistas estrangeiros”, explicou Álvaro, quem, ao mesmo tempo, é integrante da banda Kapicúa, que divulga a performance de ritmos tradicionais num formato acústico.
Outro tema importante comentado na reunião foi saber que os estudos sobre música popular ainda são muito recentes. A primeira turma graduada numa universidade egressará só em 4 anos. Tanto Álvaro quanto Marietta comentaram que ainda o ensino musical segue uma forte inclinação ao modelo de conservatório tradicional.

Certamente a Venezuela tem muitos ritmos para mostrar. Marietta Villazana, da Fundação Bigott sinalizou que o trabalho de recuperação dos ritmos tradicionais nesse país foi um trabalho muito importante nos anos oitenta e noventa, através do programa “Encuentros con”, que em suas 45 emissões resgatadas em formato digital constitui um dos mais importantes acervos audiovisuais da memória da música popular venezuelana.

“Na Fundação, a gente se propõe, principalmente, disponibilizar material de todo tipo, que divulgue a cultura tradicional e aproxime aos cultivadores das diversas artes ao público”, remarca Marietta.

O poder da “payola”

Constantemente foi comentado a realidade pela qual o pagamento nos veículos massivos é a via obrigatória para divulgar a música independente. Essa exposição na mídia em troca de dinheiro tão conhecida no Brasil como jabá tem o seu equivalente na Venezuela sob o nome de payola.

Segundo os expositores, apesar das iniciativas independentes encontrarem certa ajuda na Lei Resorte, os esforços em disponibilizar material fonográfico suficiente para divulgar na mídia não parecem diminuir a payola nem um pouco.

Porém, no meio desse panorama, iniciativas como as que geraram VenezuelaDemo são de longe um verdadeiro mergulho sonoro no cenário atual desse país. Trata-se de uma coletânea em constante crescimento, pela qual bandas nacionais de qualquer gênero têm a oportunidade de divulgar não somente suas músicas mais também uma breve resenha sobre si.

Noite

O primeiro dia fechou com o recital do Fernando Tarrés Quinteto que contou com a participação especial da cantora colombiana Lucia Pulido. Tarrés desenvolve uma linguagem musical contemporânea com fortes reminiscências de Piazzolla e folclore argentino.

Links recomendados:

venezuelademo.com:Site com o acervo sistematizado da cena atual venezuelana. Os conteúdos são todos disponibilizados na íntegra (em espanhol)

www.sincopa.com: Aqui temos um catálogo discográfico com diversos atores da cena musical venezuelana ordenados por nome e gênero.  Contém os sites pessoais, alguns endereços eletrônicos e até a discografia (em inglês)

venezuelatoda.org.ve: um portal com orientação didática sobre a música tradicional venezuelana.

Nomes para procurar: Aquiles Baez, Cristóbal Soto, Ensamble Gurrufio, enCayapa, César Orozco y Kamarata Jazz, Eddy Marcano, El Cuarteto, MAU (Movida Acustica Urbana) lamau.com, Kapicúa, Los Sinvergüenzas, C4 trio, Nuevas almas, El Pollo Brito, Ensamble Tamborum, Vasallos del Sol, Pomarrosa, Manuel Petit (Tambor de San Millán), Saul Vera y su emsamble.