Poucos lugares no mundo me despertaram tantas fantasias como este país. Acho que misturei o imaginário de livros lidos na infância, com filmes assistidos depois, e a sons ouvidos. Além dos documentários, que sempre vao buscar as imagens “autênticas”.

Assim que quando pisei no aeroporto  em Agadir, estava pronto para me maravilhar… E foi esta a sensação que tive entre o aeroporto e a cidade (percurso de uns 40 minutos). Mas a chegada ao hotel mudou esta primeira impressão. Me senti em Miami.Turistas europeus, em busca de um sol barato, enchem os espaços turísticos da cidade – sem se locomoverem. Ficam onde estão – estáticos… Se na piscina, aí permanecem por dias. E, o bairro turístico, se assemelha, a qualquer outro, em qualquer lugar do planeta.

Fui a Agadir a convite do Festival de Timitar, dirigido por Brahim El Mazned.  A idéia de Brahim era apresentar um projeto meu, brasileiro. Propus realizar um encontro com músicos locais. E Brahim, topou. E foi o que de mais bacana, poderia ter acontecido.

Primeiro, porque os músicos marroquinos que ele convidou, eram excelentes. E, porque os músicos brasileiros do projeto, Ari Colares, Lula Alencar e o João (Taubkin) compartilhavam desta expectativa e interesse. Além da Luiza Morandini, na produção… E foi a partir deste encontro, que pude conhecer um pouco do verdadeiro Marrocos (embora a parte turística não deixe de ser algo real)…

O encontro musical aconteceu de forma fácil e orgânica. Eles curtindo… Nós também. Risos daqui, piadas dalí… E pronto: já éramos uma turma. Preparamos 4 músicas brasileiras e quatro locais.

Midi –  jovem  e super talentoso músico gnawa, nos convidou a conhecer a sua cidade – a uma hora de Agadir -, e almoçar em sua casa. Housseini, grande percussionista, preparou em nosso último dia um lindo almoço em sua casa também. Fora o jantar, na casa do Brahim…

 

Experiências de puro afeto e hospitalidade. Na verdade, tínhamos que tomar cuidado em manifestar qualquer desejo, pois como na estória de Aladim, ele seria satisfeito imediatamente, por algum dos nossos companheiros locais. Poucas vezes vi esta expressão de cortesia e hospitalidade em ação como nestes dias.

Aí vale uma digressão – Agadir é a cidade que concentra o maior número de habitantes da  população berber. Que é a população original do Marrocos.

Existe uma certa divisão entre eles e os árabes, que vieram no sec  VIII DC. E há também uma polêmica – se todos são berberes e uma parte se pretende árabe. De todas as maneiras, os beberes não compõem o governo central e se sentem excluídos dos centros de poder.

marrocos dromedarios

O Marrocos é uma monarquia, de fato, em transição. O rei divide o poder com um governo civil. Ele é relativamente jovem e querido pelo seu povo. E se declara árabe e berber, neste caso, por ter uma mãe desta origem. Assim, de alguma forma todos convivem. O Festival, do qual participamos, é gratuito para o público e acontece em três espaços distintos – duas praças e um teatro – ao ar livre, aonde tocamos…

É um público gigantesco que acorre. Na praça principal, 130 mil pessoas acompanharam no domingo a apresentação de um grupo de rap local com acento político.

O teatro ao ar livre tem capacidade para “apenas” 3.000 pessoas. Havia umas 2000 ou um pouco mais quando tocamos. É para mim, um público imenso.

marrocos_ palco

O concerto aconteceu de forma bem especial, com todos nos emocionados com a experiência. E também com alguns problemas de monitor… Este é sempre um problema dos grandes festivais. Com  três grupos tocando na sequência em cada palco, fica difícil acertar a questão técnica. Mas sobrevivemos, e saímos contentes desta experiência.

Vários aspectos nos chamaram a atenção.

Nas praias poucas mulheres de maiô, a maioria entra na água de roupa. Por outro lado, parece haver uma grande tolerância, entre as diferentes tendências religiosas. Há desde burkas – cobrindo todo o rosto -, até meninas e mulheres super produzidas.

Mas não se vê beijos entre casais. Muito menos gays assumidos. Em muitos bares, apenas homens. Cds – esquece..ninguem compra. Mas um monte de fita cassette ainda presente.

Chamam a atenção os palácios. De fato, filme… E momentos onde a cidade parece a periferia de São Paulo. E bairros bonitos. Afinal uma cidade como outras, que conhecemos bem.

Fotos: Lulinha Alencar